ENREDO
No
filme, Jofre (Reginaldo Faria), ao dividir um táxi com um militante de
esquerda, é tido como "subversivo" pelos órgãos de repressão. É preso
e submetido a inúmeras sessões de tortura, por torturadores operantes à margem
do Estado, financiados por um grupo de empresários inescrupulosos.
Miguel
(Antônio Fagundes) e Marta (Natalia do Valle) tentam encontrá-lo através dos
meios legais, mas se deparam com a relutância da polícia em investigar o
desaparecimento. Com o telefone grampeado, Miguel recebe Mariana (Elizabeth
Savalla) em casa, ferida após um fracassado assalto a banco. É quando ele fica
sabendo da atuação de um grupo de repressão política patrocinado por
empresários; as investigações de Miguel prosseguem e levam ao grupo de
empresários em que atua seu próprio patrão.
Figure 1. Comemoração do Pelé após gol realizado na Copa do Mundo de 1970
ANÁLISE
FÍLMICA
“Pra frente, Brasil”
foi interditado pela censura sob a alínea D do artigo 41 da Lei 20.943, de
1946, que previa "interdição quando a obra for capaz de provocar
incitamento contra o regime vigente, a ordem pública, as autoridades e seus
agentes". A exibição foi liberada por instância superior e sem cortes,
estreando em 1983; foi uma das primeiras películas a retratar a repressão da
ditadura militar brasileira (1964–1985) de forma aberta. É um filme simples e
direto, que chama atenção para as torturas nos “anos de chumbo", mostra
que o despertar para os acontecimentos pode acontecer repeninamente.
Assemelha-se a um documentário, um lembrete de que não podemos esquecer a
ditadura.
O filme aborda
justamente os sequestros efetuados pelo governo para exterminar possíveis
movimentos subversivos e/ou comunistas. Já na primeira cena temos violência
imposta por um grupo de torturadores; também é possível notar a falta de
envolvimento político dos personagens.
Em
1970, na época dos anos de chumbo e do dito "milagre econômico", o
Brasil vibra com a Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo e, enquanto
isso, prisioneiros políticos são torturados por agentes da repressão oficial,
fazendo pessoas inocentes de vítima também. O futebol aparece em Pra frente Brasil como um elemento
importante, tanto que o início de um
novo interrogatório a Jofre é interrompido por causa de uma partida: o Brasil
vai jogar e, qualquer tarefa, mesmo de grande relevância, pode esperar os
noventa minutos de um jogo que simboliza o sucesso da pátria verde e amarela. A
Copa paralisa atividades para que o brasileiro se veja como um vencedor após os
90 minutos.
Dentro de um cenário de repressões, censuras e controle das mídias,
pouco se sabia sobre as torturas realizadas com o comando do militarismo. Os
“anos de chumbo” ganhavam uma cortina blindada através da publicidade enganosa
de crescimento econômico e país de sucesso criada pelo governo. Imagem que era
atrelada à seleção brasileira de futebol, que vivia sua grande fase com a
chance do tricampeonato; o slogan “Brasil: ame-o ou deixe-o”, exemplificava
isso.
Figure 2. Cena de tortura conhecida como
"Cadeira Elétrica" durante a Ditatura Militar
ILUMINAÇÃO
No
filme, temos:
- cenas escuras: quando o
Jofre é torturado, iluminação escura para ressaltar a dramaticidade.
- geralmente as cenas
externas são à luz do dia.
- luz clara: ressaltando a
felicidade, como por exemplo na cena final em que o Brasil é campeão.
SONOGRAFIA
A
sonografia do filme é instrumental, com as seguintes sensações:
- romantismo: quando Miguel
e Mariana se reencontram e ela pergunta se pode ficar em sua casa.
- esperança: quando Marta vê
que os filhos estão bem, mesmo sabendo
que a polícia foi à casa dela; quando Jofre pensa que escapou dos torturadores.
- suspense: quando Mariana e
um companheiro, após uma tentativa de sequestro frustrado em que ela foi
baleada, veem um corpo e depois se encaminham à casa do Miguel.
- ação: cenas de tiroteio.
- desolação: no final,
quando Mariana morre temos uma música de tristeza; o interessante, é o
contraste com a imagens da seleção ao conseguir o tricampeonato.
Figure 3. Discussão entre Miguel e Marta.
CORTES
DE CENAS
No
começo do filme, temos um travelling, com câmeras fazendo imagem panorâmica no
intuito de mostrar a paisagem.
É
usado o close, como por exemplo quando os personagens estão vendo o jogo do
Brasil: isso mostra a emoção que eles estão sentindo.
O
corte meio plano americano, no qual o enquadramento é feito da cintura para
cima, presentes em cenas de diálogo.
Em
cenas de violência o corte é abrupto, para demostrar quanto a própria cena é
violenta.
A
maioria das cenas tem o ritmo rápido, com diálogos mais curtos: isso é
interessante para contar várias pontos de vista e em cenas de ação.
AUTORES
RELACIONADOS
É
difícil esperar que existam direitos para os cidadãos durante uma ditadura,
muito mais difícil acreditar que seus direitos humanos sejam respeitados. Sem
que haja democracia, está implícito que não existe cidadania, justiça, respeito
aos direitos humanos e, consequentemente, a paz. Esses conceitos permanecem
interligados e interdependentes (BENEVIDES, Maria).
No filme
vemos retratados todos esses aspectos: ausência de democracia, de respeito aos
direitos humanos - a Jofre e comunistas da época -, de justiça - por não
considerarem criminosos os torturadores - e, finalmente, da paz. O desrespeito
aos Direitos Humanos durante os "anos de chumbo" trouxeram
consequências fatais a milhares de pessoas inocentes e àqueles ligados a vida
política da época; essa dívida não foi sanada até os dias atuais, agravando o
cenário para os defensores de DH, invisibilizando todo o trabalho de garantir
direitos fundamentais, como a vida, à presos políticos da ditadura e o direito
a julgamento (justiça) até mesmo daquela classe média que usou de tortura
durante a ditadura. ae sendo retratados como defensores de presos comuns. E o
fim das necessidades dessa mesma classe média acabaram por deturpar, na mídia,
a motivação dos defensores de DH.
Segundo
Solon, a questão dos direitos humanos é ligada à memória. As pessoas que foram
torturadas e desapareceram, tem esse direito violado. Nosso período de sombras
foi a ditadura. No filme “Pra frente, Brasil, o contexto geral para população
não era tratar a ditadura como algo ruim e repressivo, na verdade o clima era
de festejo. Devido ao “Milagre Brasileiro” e à propaganda oficial, a maior
parte acreditava em bons indicadores econômicos (inflação e desemprego baixos,
crescimento econômico). A falta de um direito afeta todos os outros. No período
em que se passa o filme, tínhamos censura e falta de liberdade, e mesmo que
todos os outros direitos fossem atendidos, a falta de um significa a
não-cidadania.
Figure 4. Cena de tiroteio ao ar livre.
Repressão na Ditadura Militar.
BIBLIOGRAFIA
BENEVIDES,
Maria. “Cidadania e Direitos Humanos”,
VIOLA, Solon
Eduardo Annes. “Entre silêncios e esquecimentos: a supressão do Estado de
Direito durante o regime militar”
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pra_frente,_Brasil
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